Zelia Maria Bonamigo
Jornalista e Antropóloga Social
zeliabonamigo@uol.com.br

João sai de manhã com o destino certo de encontrar o amigo Jacob. Ele faz isso umas duas vezes por semana. E ninguém mais pode participar daquele bate-papo, é coisas deles. A não ser o pássaro Diamante-Mandarim, com seu filhote, que, como Jacob, também aprende com o mais velho da espécie. E eu, que aguardo a chegada de uma encomenda na feira ali perto.

São amigos há anos, e cada encontro é muito esperado, tanto que é por eles batizado como “nosso momento”, algo com jeito sagrado de trocar experiências. João tem 69 anos, Jacob, 84. Coincidência ou não, os pássaros treinam numa árvore próxima de onde conversam Jacob e João, num banco de madeira, observando o distanciamento social por causa da pandemia Covid-19.

O assunto parece proibido para quem “não entende da conversa”, ou seja, para quem foge dos temas de que eles gostam. Acabo ouvindo um trecho do bate-papo:

₋ Oh, Jacob, como vai esse coração esperto, pessoa que faz perguntas para Deus?

₋ Oi, João, e como vai essa mente inteligente que questiona a própria fé?

Tais frases são como chaves de seus cumprimentos. E João:

₋ Então, Jacob, o que você descobriu de novo? Adianto que, na minha caminhada de fé dos últimos dias, aprendi uma coisa muito boa, a descoberta de que, ao viver um momento de necessidade material ou espiritual, quando não sei o que fazer, o melhor é “cutucar” Deus. Penso: Não foi ele que fez tudo? Então, tenho que tomar a iniciativa de uma conversa com ele, de “mexer com Ele” e espero a reação para saber qual será meu próximo passo. É o meu jeito.

₋ Interessante, João, mas pelo que leio na Sagrada Escritura você deveria perguntar: “Deus, você quer ter uma conversa comigo?”. Sim, porque, talvez, ele não estivesse a fim, sei lá... Eu, por exemplo, elevo meu pensamento e digo: ₋ “Deus, Jesus Cristo, Nossa Senhora, todos os santos, gostaria de saber a opinião de vocês sobre o tema que me aflige. Por favor, me mostrem algo em um sonho, como se relata na bíblia, me orientem...” João, e não é que, quando acordo, já tenho a resposta, não importa se foi pelo sonho, ou se foi pela mente. Sou templo do Espírito Santo, nele se manifesta.

₋ Que conversa a nossa, não é amigo? – observa João. Jacob confirma com a cabeça. E completa: “Sim, amigo, fica só entre nós, vão achar que somos loucos ou santos”. E os dois passam a rir da graça de si próprios, uma risada abafada sob as máscaras, porque na pandemia Covid-19 avançam novas variantes, e todo cuidado é pouco. Os pássaros entendem a graça, saltitam nos galhos.

João diz tomar a iniciativa de conversar com o Criador apresentando necessidades, não pergunta sobre o ponto de vista de Deus. Jacob consulta se o Criador aceita a conversa e aponta pistas de como seria mais fácil para ele lhe dar uma resposta.

João e Jacob compartilham. Em Marcos 5,19 diz Jesus: “Anuncia [...] tudo quanto Deus tem realizado a seu favor”. E você? Vamos com Jacob, João e os pássaros?