Justiça

Um dos julgamentos mais aguardados dos últimos anos ocorre nesta quinta-feira (28) em Capinzal

  • Jardel Martinazzo
  • 27/08/2025 13:34
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Um dos julgamentos mais aguardados dos últimos anos ocorre nesta quinta-feira (28), no município de Capinzal. No banco dos réus estará Claudia Tavares Hoeckler, acusada de matar o marido, Valdemir Hoeckler, e ocultar o corpo em um freezer, no município de Lacerdópolis. O crime aconteceu em novembro de 2022.

O júri popular terá início às 9h, na Câmara de Vereadores de Capinzal. O sorteio dos jurados que compõem o Conselho de Sentença foi realizado no dia 7 de agosto, seguindo os trâmites legais do Tribunal do Júri.

A reportagem da Capinzal FM conversou com o advogado Matheus Molin, que atuará na defesa de Claudia. Ele explicou que esteve na defesa desde o início do processo, mas, ao longo do tempo, seguiu outros rumos profissionais. No entanto, diante da confiança adquirida, foi convidado a reassumir o caso em outubro do ano passado, por meio do escritório Azevedo Lima & Rebonatto, de Joaçaba.


(Foto: Advogado Matheus Molin)

Segundo Matheus, a preparação para o julgamento vem sendo intensa, diante de um processo volumoso, com inúmeras páginas e diversas testemunhas arroladas. Ele afirmou que a equipe se preparou durante meses para atuar no plenário e acredita que cada detalhe será devidamente exposto aos jurados.

Um dos principais pontos que a defesa pretende levantar é a violência doméstica que Claudia teria sofrido ao longo dos 20 anos de relacionamento com Valdemir.

“Todos sabem que Claudia foi uma mulher que sofreu diversos tipos de violência doméstica. Esse é o ponto que vamos querer abordar no júri: mostrar aos jurados que ela é uma sobrevivente de uma realidade preocupante, infelizmente comum em nosso país e também em Santa Catarina, que lidera os rankings de violência doméstica”, destacou Matheus.

Valdemir, de 52 anos, foi encontrado morto na residência do casal após cinco dias desaparecido. Claudia foi pronunciada por homicídio duplamente qualificado — por asfixia e por recurso que impossibilitou a defesa da vítima —, além de ocultação de cadáver e falsidade ideológica.

De acordo com a denúncia, a ré teria dopado o marido, amarrado mãos e pés e asfixiado-o com uma sacola plástica. Em seguida, ocultou o corpo em um freezer e, no dia seguinte, registrou boletim de ocorrência relatando o desaparecimento.

Sobre essas acusações, o advogado de defesa reforçou que pretende trabalhar com a verdade, ouvindo testemunhas que presenciaram agressões contra Claudia, apresentando boletins de ocorrência e dando espaço para que a ré explique em detalhes tudo que viveu até o dia do crime.

“A defesa pretende trabalhar com a verdade e tem convicção de que ela será esclarecida. Não há, no processo, qualquer prova de premeditação. Os fatos aconteceram devido ao escalonamento da violência doméstica, e Claudia não encontrou alternativas”, afirmou Matheus.

O advogado ainda explicou que, segundo a ré, inicialmente as agressões eram direcionadas apenas a ela, mas, com o tempo, passaram também a atingir a filha do casal.

“Com o claro objetivo de proteger a própria vida e a da filha, os fatos ocorreram da forma que, infelizmente, tiveram que acontecer”, acrescentou.

Outro ponto relevante que será levado ao júri é um laudo psiquiátrico, realizado por um médico de São Paulo após várias consultas com Claudia, que, segundo a defesa, ajuda a compreender os fatores psicológicos que influenciaram o crime. A expectativa da defesa é pela absolvição.

Matheus relatou ainda que Claudia demonstra ansiedade pelo julgamento, mas mantém confiança de que os jurados compreenderão os motivos que a levaram a agir.

O julgamento será presidido pela juíza Jéssica Evelyn Campos Figueredo Neves. A acusação ficará a cargo do promotor Rafael Baltazar Gomes dos Santos, tendo como assistente de acusação o advogado Álvaro Alexandre Xavier, que também conversou com a reportagem.


(Foto: Advogado Álvaro Alexandre Xavier)

Segundo Álvaro, os elementos constantes nos autos comprovam de forma pacífica a materialidade e a autoria. Para ele, também estão sobejamente demonstradas as provas do meio cruel, motivo fútil e premeditação.

“Entendemos que haverá sucesso, por mais que o júri tente raciocinar com essa venda feita pela mídia, massificando a imagem de que a vítima seria um homem cruel e controlador. Nada disso se encontra nos autos. Não existem provas, muito pelo contrário. Há apenas um boletim unilateral que não teve prosseguimento. Esse homem era dedicado à ré, ajudou a formar sua carreira e fez com que tivesse sucesso na profissão”, afirmou.

O advogado da acusação acrescentou que Claudia teria tomado a atitude premeditada e cruel.

“Esperamos que os jurados vejam que houve um crime brutal. Houve uma especulação de que a mulher é sempre vítima, mas, neste caso, quem foi vítima foi Valdemir, que morreu sem saber que estava sendo executado”, completou.

Acesso ao júri

O julgamento será aberto ao público, mas limitado pela capacidade do espaço. Parte das vagas será destinada aos familiares da vítima e da ré, e o restante ficará disponível ao público em geral e profissionais da imprensa, com senhas distribuídas por ordem de chegada. Jornalistas precisaram se cadastrar até as 15h desta quarta-feira (27).

Entre as medidas definidas pelo juízo da 2ª Vara da Comarca de Capinzal estão:

celulares desligados durante toda a sessão;

detector de metais na entrada;

revezamento da imprensa no salão;

proibição de transmissões ao vivo e gravações com áudio;

permissão apenas para registros fotográficos que não identifiquem jurados ou testemunhas.

O júri deve ser concluído ainda na quinta-feira, embora sem horário definido para o término.

A Diretoria de Trânsito alerta que o acesso pela Rua Alexandre Thomazzoni será liberado apenas para autoridades policiais e imprensa. Os demais veículos deverão utilizar rotas alternativas. O estacionamento no trecho será isolado ainda na noite de quarta-feira e, já nas primeiras horas de quinta, a via estará totalmente interditada.

 

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